Terceira semana da Quaresma 2024 WCCM

Terceiro Domingo da Quaresma

Por Laurence Freeman OSB

O evangelho de hoje (Jo 2:13-25) descreve Jesus purificando o Templo em Jerusalém. Indignado com a comercialização deste espaço sagrado, mas também politizado, ao ver os animais sendo vendidos para sacrifício e os mercadores explorando os visitantes estrangeiros durante o movimentado tempo da Páscoa, ele reagiu com raiva. Ele fez um chicote de cordas e expulsou os comerciantes de animais; e então virou as mesas dos mercadores, espalhando suas moedas. Sua razão era clara: ‘Não transformem a casa de meu pai em um mercado’.

Locais de peregrinação católica, como Lourdes, construíram suas economias em torno dos peregrinos, mas, talvez lembrando deste trecho, as regiões sagradas em si são livres de comércio. No mês passado, os ativistas do Extinction Rebellion vestidos com roupas sociais ocuparam empresas de seguros na cidade de Londres, as quais afirmavam ser cúmplices do caos climático ao segurarem empresas envolvidas em danos ambientais. O Movimento Occupy, protestando contra a desigualdade social e econômica, perturbou Wall Street. Greta lidera greves de estudantes. Em todos esses casos, como sem dúvida no Templo, uma vez que a perturbação acaba, as coisas voltam ao normal e os mercadores negociam para recuperar suas moedas dispersas. Protestos como esses não trazem mudanças radicais e duradouras; mas eles levantam e mantêm a consciência da injustiça e desafiam os que ficam em casa, como a maioria de nós, a tomar partido, ajudando-nos assim a nos sentir menos impotentes e sem esperança.

Eles são facilmente descartados como respostas emocionais e ineficazes. Mas quando as pessoas se sentem impotentes, o que mais importa para elas é desfrutar da liberdade de expressão – exatamente o que está sendo esmagado no surgimento do totalitarismo repressivo em países como Rússia, China e Irã. Precisamos de protestos que pareçam não alcançar nada, mas que digam algo mesmo assim. No entanto, a raiva sem profundidade pode não levar a lugar algum ou pior, levar à amargura e ao desespero.

No evangelho, Jesus explica seu comportamento no Templo nos termos místicos mais profundos: identificando o Templo com sua própria forma ressuscitada de encarnação.

O maravilhoso filme Jesus de Montreal mostra uma figura contemporânea de Jesus espelhando os eventos que levam à sua morte e ressurreição. Ele lidera um grupo heterogêneo de atores, entre os quais, em uma cena, a figura de Maria Madalena está fazendo teste, levemente vestida, para um comercial de cerveja na TV. Jesus está presente no estúdio e testemunha sua zombaria, degradação e humilhação pelo produtor. Jesus se levanta e, silenciosamente, calmamente, anda pelo estúdio derrubando as câmeras e iluminação. Isso leva ao seu julgamento e eventual morte.

Estamos obcecados com objetivos, resultados, mensuráveis para tudo o que fazemos, alheios à sabedoria do Bhagavad Gita sobre o trabalho: Você tem o direito de realizar seus deveres prescritos, mas não tem direito aos frutos de suas ações. Nunca se considere a causa dos resultados de suas atividades, nem se apegue à inação. (BG 2:47).

A qualquer momento, em qualquer lugar do mundo, quando alguém se senta para meditar, está fazendo o protesto perfeito contra a ilusão que subjuga à injustiça. Cada meditação testemunha a verdade e a bondade e as aproxima de serem realizadas.


Texto original

Third Sunday of Lent

Today’s gospel (Jn 2:13-25) describes Jesus purifying the Temple in Jerusalem. Outraged by the commercialisation of this sacred but also politicised space, seeing the animals being sold for sacrifice and moneychangers exploiting foreign visitors during the busy time of Passover, he reacted with anger. He made a whip of cords and drove the animal merchants out; and then turned the money-changers’ tables over scattering their coins. His reason was clear: ‘You must not turn my father’s house into a market.’

Catholic pilgrimage sites, like Lourdes, have built their economies around pilgrims but, perhaps remembering this passage, the sacred zones themselves are commerce-free. Last month the Extinction Rebellion activists dressed in business attire occupied insurance companies in the City of London which, they claimed were complicit in climate chaos by insuring companies involved in environmental damag. The Occupy Movement protesting social and economic inequality disrupted Wall Street. Greta leads school-children strikes. In all these cases, as no doubt in the Temple, once the disruption is over, things return to normal and the money-changers haggle to recover their scattered coins. Protests like these don’t bring radical, lasting change; but they do raise and sustain awareness of injustice and challenge stay-at homes like most of us to take sides, thus helping us feel less helpless and hopeless.

They are easily dismissed as emotional, ineffective responses. But when people feel helpless what matters most to them is to enjoy freedom of self-expression – precisely what is being crushed in the rise of repressive totalitarianism in countries like Russia, China and Iran. We need protests that don’t seem to achieve anything but say something nonetheless. Yet anger without depth can lead nowhere or worse to bitterness and despair.

In the gospel Jesus explains his behaviour in the Temple in the deepest mystical terms: identifying the Temple with his own resurrected form of embodiment.

The wonderful film Jesus of Montreal, shows a contemporary Jesus-figure mirroring the events leading to his death and resurrection. He leads a motley group of actors among whom, in one scene, the Mary Magdalene figure is auditioning, lightly clad, for a TV beer commercial. Jesus is present in the studio and witnesses her mocking, degradation and humiliation by the producer. Jesus stands up and silently, calmly walks round pushing over the expensive cameras and lighting. This leads to his trial and eventual death.

We are obsessed with objectives, outcomes, measurables for all we do, oblivious to the wisdom of the Bhagavad Gita on work: You have a right to perform your prescribed duties, but you are not entitled to the fruits of your actions. Never consider yourself to be the cause of the results of your activities, nor be attached to inaction. (BG 2:47). Anytime, anywhere in the world when anyone sits to meditate, they are making the perfect protest against the illusion that underlies injustice. Each meditation witnesses to truth and kindness and bring them closer to being realised.

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