Quarta semana da quaresma 2024

Segunda-feira da quarta semana da Quaresma

Por Laurence Freeman OSB

Tudo depende da nossa percepção: de como vemos as coisas e da resposta que damos ao que vemos (ou pensamos que vemos). Teoricamente, valorizamos a objetividade e o distanciamento e gostamos de sentir que possuímos essas qualidades, mas, mesmo nos rigores do método científico, o que parece objetivo para mim pode parecer puro preconceito ou até mesmo estupidez para outro e, depois do acontecimento, ser equivocado mesmo para mim. Como podemos ter certeza de que o que percebemos é real e que a nossa maneira de ver tem valor? A percepção é muito importante, mas a perspectiva molda a percepção mesmo sem sabermos disso. A perspectiva é construída a partir de todas as nossas influências culturais, educacionais e pessoais. A crise atual reside no fato de que a perspectiva que tínhamos como certa está entrando em colapso.

A era em que estamos – e por onde caminhamos – está imbuída de uma crise de percepção causada pela mudança de perspectivas fundamentais que se deslocam como placas tectônicas situadas profundamente sob a superfície da Terra se movimentando imperceptivelmente até produzirem um terremoto devastador. Nesses tempos, sentindo-nos como ovelhas sem pastor ou como um carro descendo uma colina cujos freios falharam, corremos de um lugar a outro tentando novas soluções e voltando atrás quando chegamos a novo beco sem saída. A vida não é mais percebida como uma revelação surpreendente do mistério da criação. Parece um labirinto e gostamos de ver ratos presos nele tentando desesperadamente encontrar a saída.

No entanto, há uma distinção muito importante entre um maze* e um labirinto.

Um tipo simples de labirinto em espiral está entre os desenhos mais antigos pintados por mãos humanas nas paredes de cavernas mágico-míticas de aproximadamente 40.000 anos atrás. Na época clássica e mais tarde na Idade Média, o labirinto mais sofisticado, tal como ainda podemos ver no chão da Catedral de Chartres, parece estranhamente com os dois hemisférios cerebrais ou, para alguns, com o trato intestinal. É uma prática espiritual percorrê-lo, pois traz à mente consciente o que está se desenrolando ou o que está bloqueado em nosso inconsciente. Para o meditante é um símbolo da sua jornada interior diária. É preciso fé e perseverança para percorrer o labirinto, seguindo um caminho estreito, um passo medido de cada vez, no qual entramos por uma única entrada que é também a única saída depois de concluída a jornada. O labirinto é uma peregrinação de direção única que põe à prova a nossa fé porque pode parecer afastar-se do centro para onde nos conduz. Deus não escreve certo por linhas tortas. Ele desenha linhas curvas que tentamos melhorar, endireitando-as.

Enquanto o labirinto é uma peregrinação que aprendemos a seguir, um maze é um problema a ser resolvido, um quebra-cabeça a ser dominado. Os mazes têm múltiplas entradas e saídas. O objetivo é apenas sair depois de se perder e se perder é a emoção – ou o horror disso. Também existem becos sem saída frequentes que nos obrigam a refazer nossos passos e a enfrentar o medo de nunca mais sair. Um maze, então, é um labirinto corrompido e funciona como uma metáfora para o que muitos acham que a vida moderna se tornou. Quem desenhou o primeiro labirinto estava expressando o desgosto pela falta de sentido da vida, da mesma forma que os produtores de filmes de terror exploram os medos da nossa escuridão interior que se acumulam para explodir por detrás da máscara do falso otimismo.

A meditação converte o maze em um labirinto. Ao fazer isso, a vida mais uma vez se torna verdadeiramente incrível.

*NT: Os labirintos têm um único caminho que levam ao centro se continuarmos em frente, enquanto os mazes têm vários caminhos e becos sem saída que não necessariamente ou nem sempre têm um centro. Podemos nos perder em um maze, mas não em um labirinto.


Texto original

Everything depends on perception: how we see things and the response we have to what we see (or think we see). Theoretically, we value objectivity and detachment and like to feel we have these qualities but, even in the rigours of the scientific method, what is objective to me may seem sheer prejudice or stupidity to you and even, after the event, mistaken to me. How can we ever be sure that what we perceive is real and that our way of seeing has value. Perception is all-important but perspective shapes perception even without our knowing it. Perspective is constructed of all our cultural, educational and personal influences. Our crisis is that the perspective we took for granted is collapsing.

The era we are in – and feeling our way through – is in a crisis of perception caused by the shifting of fundamental perspectives that are shifting just as tectonic plates deep below the surface of the earth move imperceptibly until they produce a devastating earthquake. In such times, feeling like sheep without a shepherd or like a car running downhill whose brakes have failed, we dash from pillar to post trying new solutions and doubling back on ourselves when we reach another dead end. Life is no longer perceived as an amazing revelation of the mystery of creation. It feels like a maze and we like mice caught in it desperately trying to find the way out.

However, there is an all-important distinction between a maze and a labyrinth.

A simple kind spiral-labyrinth is among the most ancient designs painted by human hands on the walls of magical-mythical caves up to 40,000 years ago. In classical times and later in the Middle Ages the more sophisticated labyrinth, such as we can still see on the floor of Chartres Cathedral, looks uncannily like the two hemispheres of the brain or, to some, the intestinal tract. It is a spiritual practice to walk it as it calls to the conscious mind what is unfolding or blocked in the unconscious. To the meditator, it is a symbol of their daily inner journey. It requires faith and perseverance to do the labyrinth, following one narrow path, one measured step at a time, which we enter through a single entrance which is also the single exit once the journey has been completed. The labyrinth is a unicursal pilgrimage which tests our faith because it can it seem to lead away from the centre it is leading to. God doesn’t write straight with crooked lines. He draws curving lines that we try to improve on by straightening them out.

While the labyrinth is a pilgrimage that we learn to follow, a maze is a problem to solve, a puzzle to master. Mazes have multiple entrances and exits. The goal is to just to get out once you have got lost and getting lost is the thrill – or the horror of it. There are also frequent dead-ends which force you to the retrace your steps and face the fear of never getting out. A maze, then, is a corrupted labyrinth and works as a metaphor for what many feel modern life has become. Whoever designed the first maze was expressing a disgust at the meaninglessness of life in the same way that makers of horror movies are tapping into those fears of our inner darkness that build up for explosion behind the mask of false optimism.

Meditation converts the maze into a labyrinth. As it does so, life once again becomes truly amazing.

Note: Labyrinth’s have one single path that will eventually lead to the middle if you keep going straight, while mazes have multiple paths and dead ends that don’t necessarily or always have a center. You can get lost in a maze but not a labyrinth.

Publicações similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *