Carta 50 – Esforço versus Graça
Cara(o) Amiga(o)
Jesus nos orienta, no Evangelho Segundo São Tomé, incentivando-nos a entender o ensinamento de suas afirmações, mas, ao mesmo tempo, deixando claro que a responsabilidade por nossa salvação recai sobre nossos próprios ombros. Importa ressaltar que a descoberta da verdadeira interpretação dessas afirmações se assemelha à leitura profunda e atenta da Escritura a que Orígenes se referia e que, de acordo com este, conduzia à prece contemplativa e era por esta facilitada. Considerava-se que esse envolvimento profundo e intuitivo com o texto resultava num encontro com a presença do Cristo e, consequentemente, iria levar a um verdadeiro entendimento do significado espiritual da Escritura.
Portanto, a descoberta de quem verdadeiramente somos, e a consequente descoberta da Verdade, depende de uma combinação de nosso esforço, nossa iniciativa e responsabilidade pessoal, e da graça inerente ao ser e às palavras de Jesus.
Assim disse Jesus: “Se lhes disserem: ‘de onde vieram?’, digam-lhes: ‘viemos da luz, do lugar onde a luz surgiu por si, estabeleceu-se e apareceu em sua imagem’. Se lhes disserem: ‘Ela é vocês?’, digam-lhes: ‘Somos seus filhos e somos os escolhidos do pai vivo’.”
Nesse Evangelho, portanto, Jesus nos aponta muito diretamente para nossa origem Divina. Aqui também a ênfase está na presença de Deus, no Reino, que está em nosso interior, e ademais no meio de nós, a todo momento:
Assim disse Jesus: “Se seus líderes lhes dizem: ‘Vejam, o reino está no céu’, então os pássaros do céu os precederão. Se lhes dizem: ‘Está no mar’, então os peixes os precederão. Antes, o reino está dentro de vocês, e está fora de vocês.”
Essa ênfase em que cada um de nós contém dentro de si uma centelha do Divino era uma crença de muitos dos padres da Igreja, tais como Clemente de Alexandria e Orígenes; era considerada uma doutrina apostólica nos primeiros séculos. John Main é seguramente um herdeiro dessa tradição. Ele lamentava que homens e mulheres de nosso tempo “perderam o sustentáculo de uma simples fé em sua essência de bondade, razoabilidade e integridade interior”. Ele incentivava a cognição “do potencial do espírito humano, em lugar das limitações da vida humana”. Mas, essa era também uma das principais doutrinas dos Gnósticos. É possível que essa tenha sido a razão pela qual essa visão tenha mais tarde sido desacreditada e suplantada pela interpretação ortodoxa que ressaltava que fomos na verdade feitos à imagem de Deus, mas que na “queda” essa imagem foi completamente estilhaçada. Só pela graça de Cristo poderíamos ser salvos. Nós mesmos nada poderíamos fazer, em oposição à mensagem do Evangelho segundo Tomé. É fácil ver que essa ênfase no esforço pessoal e no entendimento profundo e intuitivo, em lugar da pura crença no ensinamento acreditado, colocou o Evangelho segundo Tomé fora do cânone da ortodoxia acreditada da Escritura do século IV.
Em seus ensinamentos John Main combinou a importância de ambos, crença e entendimento intuitivo, e ambas, a prece comum e a prece pura e silenciosa. Só pela fé em nossa origem Divina, e Divina conexão, podemos meditar fielmente e em total confiança.
por Kim Nataraja
Até a próxima semana!
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL