Carta 14 – Aceitando o Silêncio
Cara(o) Amiga(o)
Para muitos de nós, as emoções dominantes, que nos governam inconscientemente, são a insegurança e o medo. De acordo com John Main John Main OSB , elas nos impedem de ter a coragem de entrar no silêncio. Estas fortes emoções se devem tanto a estímulos externos, que nos levam a sentirmo-nos impotentes em relação a nossa própria vida, quanto a estados interiores, principalmente a falta de autoestima, quando estamos por demais preocupados com nossas próprias desvantagens e limitações.
Estes medos exteriores podem ter fundamento em situações reais nas quais nos encontramos, mas os interiores se baseiam em ilusões, são apenas percepções. Baseiam-se na falta de um verdadeiro autoconhecimento, uma vez que esquecemos a verdade do nosso ser integral. John Main está, constantemente, nos apontando na direção certa: entrando em nós mesmos podemos experimentar “a harmonia de todas as nossas qualidades e energias naquele centro último de nosso ser, que é o centro e fonte de todo ser… Amor.”
Essas emoções não são o único fator que nos torna hesitantes em entrar no silêncio interior a que a meditação nos conduz. Entrar em nós mesmos e descobrir um jeito diferente de ser vai contra a opinião atual sobre o que é importante. Nossa sociedade foca o plano material, negando até mesmo que haja algo além do nível racional e consciente da percepção. A consciência é considerada uma propriedade emergente do cérebro. Quando o cérebro não funciona mais, há apenas o esquecimento esperando por nós. Que visão limitada e deprimente da natureza humana: somos meramente orgânicos, computadores biológicos respondendo a estímulos do ambiente, programados para nos afirmar, agir e realizar. Não é de admirar que a falta de sentido e uma sensação de alienação sejam tão predominantes em nossa época.
O antídoto para isso, silêncio e apenas ser, é percebido como uma perda de tempo, durante o qual poderíamos, em vez disso, alcançar de maneira mais lucrativa nossos claros objetivos materialistas. A existência de espírito e alma é negada; eles são considerados apenas uma resposta a um desejo irreal de imortalidade. Não importa que isso vá contra o pensamento filosófico e espiritual de milhares de anos.
Apenas para citar alguns exemplos recentes: O psiquiatra C.G. Jung deparou-se, já no início do século 20, com essa descrença absoluta: “A suposição de que a psique humana possui camadas que se encontram abaixo da consciência não deve suscitar séria oposição. Mas, que poderia muito bem haver camadas acima da consciência, parece ser uma suposição que beira a alta traição contra a natureza humana.” O psicólogo americano William James, em ‘Varieties of Religious experience’ (‘As variedades da Experiência Religiosa’), destacou que: “Quando despertos nossa consciência normal, nosso estado de vigília, é, apenas, um tipo especial de consciência, enquanto, em todo o seu redor, separadas dela pela mais frágil das telas, existem formas potenciais de consciência inteiramente diferentes.” Apesar dessas e de muitas outras vozes ao longo dos milênios, a maioria dos cientistas se agarram fortemente a seu limitado ponto de vista materialista e mecanicista.
John Main está, também a esse respeito, liderando o caminho, ao nos encorajar a sermos contra culturais e entrarmos no silêncio e experimentarmos, por nós mesmos, que há muito mais para nós do que pensamos. Ele explica em ‘A Palavra que leva ao Silêncio’, “que é somente aceitando o silêncio, que as pessoas passam a conhecer seu próprio espírito, e somente no abandono a uma profundidade infinita de silêncio pode ser revelada, a elas, a fonte de seu espírito, na qual a multiplicidade e a divisão desaparecem”.
Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL