carta 5 – O mantra canta em nosso coração

Tendo aprendido com Swami Satyananda a meditar, repetindo um mantra, uma palavra sagrada ou frase, durante todo o período de oração, não é de surpreender que tenha saltado aos olhos de John Main ao ler a Conferência X de João Cassiano, que usar uma única frase para chegar à quietude da mente é necessária para a verdadeira oração contemplativa.

Cassiano diz: “Este mantra deve estar sempre em seu coração. Quando for dormir, repita este verso, até que, tendo sido moldado por ele, você se acostuma a repeti-lo mesmo em seu sono… Que esta seja a primeira coisa que lhe venha à mente ao acordar”. Fazendo isso, ele “antecipará todos os seus pensamentos durante a vigília” e estará presente o dia todo “nos recessos do seu coração”. Todos nós sentimos a verdade disso. Quando por algum motivo perdemos a meditação matinal, o dia não flui da mesma maneira que de costume.

Também fica muito claro no ensinamento de Cassiano que nossa vida diária influencia nossa oração e nossa oração influencia nossa vida diária: “Portanto, devemos ser fora do período de oração o que queremos ser quando estamos orando. Pois a mente, no momento da oração, é necessariamente tomada pelo que aconteceu antes, e quando estamos orando, ela é elevada aos céus ou rebaixada à terra pelos pensamentos que tínhamos tido antes de orar”.

Quando explicamos às pessoas que os ensinamentos de John Main estão baseados nos ensinamentos de Cassiano, a resposta daquelas que não querem aceitar a origem primitiva da meditação cristã é que o ensinamento não é o mesmo. Claro que não é idêntico. Ambos são dirigidos a públicos diferentes – Cassiano para àqueles que escolheram a vida monástica como monge ou monja em mosteiros e, John Main, para outros além daqueles, para todos os homens ou mulheres na vida diária de trabalho, que estão interessados em se aprofundar na oração.

A beleza de qualquer tradição é que ela permanece fiel a si mesma enquanto evolui ao longo do tempo. Além disso, se voltarmos ao tempo dos eremitas do deserto, eles não ficavam apenas sentados rezando o dia todo. Eles atuavam nos campos do vale fértil do Nilo como trabalhadores contratados, ou trançavam cordas e, faziam cestas para vender no mercado ou cuidavam de uma horta (no deserto!) que não apenas os alimentava, mas também aos camponeses que viviam nos arredores. Todavia, o tempo todo, enquanto trabalhavam, eles repetiam continuamente sua “fórmula”, como Cassiano a chamava. Esta é a essência do ensinamento de John Main e de Cassiano sobre meditação: repetir continuamente a palavra no que quer que esteja fazendo, e descobrir que isso o levará a repetir, soar, ouvir o mantra que está lá cantando e, assim permitir que as distrações em seu coração sejam ignoradas.

“É simples, mas exigente. O verdadeiramente simples raramente é fácil”, diz John Main.

Contudo, ele também nos adverte para não ficarmos sentados avaliando nossa meditação: ‘Estou repetindo ou ouvindo o mantra, ou ele já está soando em meu coração? A essência é “repetir o mantra em total simplicidade e com total fidelidade. Sem expectativa.” E, espontaneamente vai chegar o momento em que vamos acordar durante a noite ou quando houver uma pausa em nossas atividades diárias que tomamos consciência do mantra soando em nosso coração, formando uma conexão permanente com o Divino e, permeando lentamente tudo ao longo do tempo, sem que percebamos, seja o que for que estivermos pensando, desejando ou fazendo. Então nos tornaremos quem verdadeiramente somos, em essência.

Kim Nataraja

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