Carta 15 – Tornando-se Inteiro
Cara(o) Amiga(o)
Ao longo de seus escritos, John Main enfatizou a importância de experienciar pessoalmente o silêncio, para onde a fiel repetição do mantra nos conduz. Vimos em outros “Ensinamentos Semanais” que isso exige que ultrapassemos a camada de pensamentos e imagens, “o barulho caótico de uma mente devastada por tanta exposição a trivialidades e distrações”. Precisamos até encarar com coragem o primeiro nível em nosso inconsciente pessoal, onde o ego depositou todas as emoções que não eram apropriadas para serem expressas em um momento do passado, pois iam contra as nossas necessidades de sobrevivência, de sermos aceitos, amados e estimados: “um nível de consciência mais sombrio, de medos e ansiedades reprimidos”.
Embora muitas vezes nos sintamos envergonhados ou perplexos com o fato de que lágrimas, sentimentos de raiva e irritação possam, depois de um tempo, emergir do silêncio da meditação, sua libertação do inconsciente é curativa. É preciso muita energia para manter as emoções reprimidas, e muitas estão ali há muito tempo. Por isso, frequentemente nos sentimos melhor quando aceitamos que venham à tona, e reconhecemos que foram reações válidas em uma época do passado. Mas, agora é agora, aquilo foi antes. Essas percepções, esses “insights”, são um presente, uma graça concedida pelo Cristo que habita em nós. A experiência da meditação valida a fé que temos de que não estamos sozinhos nesta jornada interior “à fonte do nosso ser”. A repetição do mantra nos lembra e focaliza nossa atenção na presença de Jesus dentro de nós. John Main enfatizou em “O Momento de Cristo” que, no caminho da meditação, “Nosso guia é Jesus, o homem plenamente realizado, o homem totalmente aberto a Deus”. É Jesus, o Curador, quem nos ajuda a encarar e aceitar todos os obstáculos para progredir no caminho espiritual e, assim, cura as nossas feridas, que constituem a nossa “sombra”. Esse é o nome que C.G.Jung, o psiquiatra suíço do século 20, deu a esses aspectos feridos de nosso ser, causados pela repressão devido ao condicionamento e às necessidades de sobrevivência. A “sombra” representa todas aquelas partes de nosso ser que nosso ambiente original não aprovava, tanto os traços positivos, quanto os negativos. Tornar-se inteiro não significa tornar-se “perfeito”, quando apenas boas características estão presentes. Significa aceitar todos os aspectos de nosso ser, tanto os negativos, quanto os positivos. Significa aceitar tanto nossa impaciência, quanto nossa generosidade.
É por isso que a jornada da meditação é uma jornada transformadora. Somos conduzidos da fragmentação à totalidade, à plenitude de vida. Como diz John Main em ‘O Momento de Cristo’, “Quando nos aproximamos do centro de nosso ser, ao entrarmos em nosso coração, descobrimos que somos saudados por nosso guia, saudados por aquele que nos conduziu. Recebemos as boas-vindas da pessoa que chama cada um de nós à pessoal plenitude de ser”. O vislumbre da verdade de que somos amados e aceitos pelo Divino, como somos, com toda a nossa fragmentação, pode ser breve, mas, uma vez experimentado, nunca é esquecido; muda toda a nossa vida e nos permite responder ao “convite, nosso destino, … para colocarmos nossas vidas em completa harmonia com essa energia divina.” (Caminho do Não Conhecimento). Depois disso, nosso modo de ser no mundo se baseia no amor e no perdão, e não agimos mais a partir de nossa fragmentação.
Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL