Carta 2 – Basicamente pecadores ou essencialmente bons
Cara(o) Amiga(o)
Ouvimos as palavras que dizem de nossa conexão essencial com a Realidade Divina, mas será que realmente acreditamos nelas? Infelizmente, fomos criados com a visão de que somos basicamente pecadores, e que existe uma lacuna intransponível entre o Divino e nós. Essa visão surgiu no século IV com Atanásio bispo de Alexandria, e teve sua forma final dada por Santo Agostinho, em paralelo à tradicional concepção cristã primitiva de conexão básica com o Divino.
Na visão de Santo Agostinho a salvação da humanidade foi predeterminada tão somente pela graça, e não é entendida como restauradora da humanidade à sua bondade natural e essencial dada por Deus. Nessa visão não apenas a humanidade era basicamente pecaminosa, mas até mesmo toda a criação era imperfeita. Os primeiros cristãos, no entanto, viam a criação como uma manifestação do Deus invisível – o primeiro passo em direção a uma visão de Deus: “Quanto aos que estão longe de Deus… Deus tornou possível que eles se aproximassem do conhecimento Dele e de Seu amor por eles, por meio das criaturas.” (Evágrio)
A visão de John Main está claramente alinhada à teologia dos primeiros cristãos e, também, à do cristianismo celta (o que não nos surpreende dado seu passado celta) onde há a ideia da imagem do Divino que vive nas profundezas de cada um de nós e, da perfeição da criação que nunca foi perdida. Ele declarou com pesar que, neste desenvolvimento agostiniano da teologia, os homens e mulheres modernos “perderam o apoio de uma fé comum em sua essência de bondade, razoabilidade e integridade interior”. Eles perderam o foco no “potencial do espírito humano” e, em vez disso, enfrentam “as limitações da vida humana”.
Na teologia de John Main, Deus como “a raiz de nosso ser” e nossa bondade básica, e não nossos pecados, são enfatizados. Em sua visão: “O que é realmente importante saber é que, se somos pecadores (e todos devemos saber que o somos), nossos pecados não têm valor. Eles não podem existir porque são totalmente apagados à luz do amor de Deus.”
Nosso pecado é nossa divisão: entre nosso centro, onde Cristo habita, e nosso ego superficial. Na visão de John Main, compartilhada dos primeiros Padres e Madres do Deserto, a salvação vem por meio da purificação do ego ferido através da tomada de consciência. Isso é proporcionado pela oração silenciosa e profunda, à qual a meditação nos leva. Então, “todas as barreiras que nos separam de nosso verdadeiro eu, dos outros e de Deus… são desmanteladas”. Isso implica em deixar para trás todos os pensamentos e imagens a partir dos quais o ego ferido se sustenta e, assim, transcender o ego. Seguimos então a ordem de Jesus: “Se alguém deseja ser meu seguidor, deve deixar a si mesmo… Mas se um homem se permitir se perder por minha causa, ele encontrará seu verdadeiro eu.” No momento em que nos voltamos do ego para o nosso verdadeiro eu, o ego ferido, o que peca, é curado pelo “poder do puro amor “. Portanto, não é de surpreender que o ensino essencial de John Main se concentre nesta forma de oração.
por Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL