Carta 19 – Intuição e racionalidade

 Cara(o) Amiga(o)

Nós nos engajamos em uma forma de oração que pressupõe uma atitude que é o oposto daquilo que, cada vez mais, é culturalmente aceitável na Civilização Ocidental. Por causa de nossa experiência na oração, sabemos que não podemos nomear o Inominável, não podemos dar forma ao Sem Forma. Sabemos que não podemos conhecer a Realidade Divina com a mente, ou os sentidos. Mas, também sabemos que isso não significa que o Sem Nome e Sem Forma não exista, apenas porque formamos uma imagem em nossa imaginação, e não com nossos sentidos “objetivos”.

Existem duas maneiras diferentes de perceber a realidade – por meio da intuição e por meio da racionalidade. Embora muitas vezes elas sejam tratadas como totalmente diferentes e opostas, são formas complementares de aproximação à realidade. A imaginação é uma das qualidades exclusivas do ser humano, pelo que sabemos. E, no entanto, toda a nossa cultura circunjacente no Ocidente, e nosso próprio consequente condicionamento, são baseados na racionalidade e negam a importância da imaginação – ela é rejeitada com base no argumento de que isso é subjetivo, e “apenas” nossa imaginação.

A visão predominante é que você não deve aceitar como real o que não pode objetivamente ver com seus próprios olhos, testar no laboratório, e deve ignorar qualquer coisa subjetiva que não possa ser explicada racionalmente. Ouvimos John Main reconhecer a dificuldade que podemos ter com isso em ‘O Momento de Cristo’: “Pode parecer inacreditável para nós que o caminho para a visão real é a transcendência de todas as imagens. Parece-nos, a princípio, que sem imagens não há visão, assim como sem pensamento não há consciência”.

No entanto, os físicos e cosmologistas “racionais” estendem suas teorias com base em fórmulas matemáticas para incluir todo o cosmos, usando tanto sua intuição quanto sua imaginação. Eles não podem realmente dizer que isso se baseia em fatos, já que seus experimentos “objetivos” são baseados apenas na realidade material que podemos ver, que é 5% de todo o cosmos; o resto é matéria escura e energia escura sobre a qual nada sabemos.

A intuição desempenha um papel muito maior na descoberta científica do que os cientistas em geral gostam de admitir, mas Einstein tinha a intuição em alta conta: “A mente intuitiva é um dom sagrado e a mente racional é um servo fiel. Criamos uma sociedade que honra o servo e esqueceu o dom”. Essa negação das correspondências entre ciência e espiritualidade – ainda uma visão majoritária – traz à mente o que disse Santo Antão do Deserto há quase dois mil anos: “Chegará o tempo em que as pessoas enlouquecerão e quando encontrarem alguém que não é louco, se voltarão para ele e dirão: ‘Você está louco!’ só porque ele não é como elas”. Essa atitude de ‘loucura’ generalizada é o que leva a uma sensação de falta de sentido, ao que John Main chama, em ‘O Momento de Cristo’: “o terreno do medo mais obsessivo do homem – de isolamento, medo e solidão, de que o mundo seja, ele próprio, apenas um terrível engano”. Só ouvindo com o ouvido do coração, a compreensão intuitiva vinda da experiência na oração silenciosa, podemos escapar daquilo que São Paulo já chamava há 2.000 anos de um “mundo sem esperança”. Mas, como John Main continua em ‘O Momento de Cristo’: “o que, em última análise, torna a profundidade de visão possível é a fé: o salto para o desconhecido, o compromisso com a Realidade que não podemos ver”.

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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