Carta 21 – A Porta Estreita
Cara(o) Amiga(o)
“A porta que conduz à vida é pequena e o caminho é estreito, disse Jesus. “Ela é estreita porque resulta da concentração, da centralização de todo nosso ser, de todas as nossas energias e faculdades num único ponto”, assim nos diz John Main em ‘A Palavra que Leva ao Silêncio’. Nós nos concentramos em nossa palavra de oração, nosso mantra e deixamos todo o resto para trás, nossos devaneios, nossas imagens, nossos pensamentos, incluindo nossas estruturas de crenças e dogmas cristãos. Todos nós sabemos que é fácil apenas dizer ‘repita sua palavra’, mas que não é nada fácil fazê-lo. É muito agradável se sentar e deixar fluir seus pensamentos e devaneios, não requer nenhum esforço, porque nosso cérebro está em seu modo normal de operação. Pode até ser relaxante, à sua maneira. É verdadeiramente “a porta [que é] larga é o caminho fácil que conduz à destruição”.
Compreendemos a facilidade desse caminho, mas por que levaria ele à destruição? Porque desse modo permaneceremos sempre na superfície e nunca descobriremos a totalidade do nosso ser que é, em grande parte, nosso ser espiritual, nossa conexão com o Divino. É a nossa fé e a nossa confiança, que crescem com a experiência de cada meditação, que nos encorajam a fazer o esforço de prestar atenção plena e amorosa ao nosso mantra. Nos é dito que isso leva ao nosso centro, onde o espírito de Cristo habita em nós, mas temos que confiar, pois esse é um salto para o desconhecido. Se ousarmos, seremos conduzidos, por repetir o mantra, “para uma experiência de liberdade que reina no centro de nosso ser … ajudando-nos a desviar nossa mente de nós mesmos.” (A Palavra que Leva ao Silêncio)
A liberdade vem de sermos libertados de todas as nossas estruturas de pensamento, de todos os nossos medos e desejos, nossa necessidade de sermos bem-vistos, nossa necessidade de correspondermos ao que as outras pessoas e a sociedade esperam de nós. É maravilhoso deixar passar todos aqueles pensamentos que circulam em nossa mente, todos eles, de uma forma ou de outra, se ocupam com nossa autopreservação.
Aqui, novamente, somos contra-cultura. A última coisa que nossa cultura incentiva é “deixar-se ficar para trás”. Nossa sociedade e sua mentalidade encorajam o ego a ficar firmemente no controle. A ênfase é colocada na autopromoção e auto-apresentação para garantir que não apenas sobreviveremos, mas faremos isso melhor do que os outros, com a suposta recompensa de poder e estima. ‘Deixar-se para trás’ na vida e na meditação é um conceito que algumas pessoas veem como uma desculpa para desistir, presumivelmente porque sentimos que não somos bons o suficiente para sobreviver na corrida dos ratos. Mas, John Main em ‘A Palavra que Leva ao Silêncio’, continua ressaltando que nossa “meditação não é uma fuga, não é uma tentativa de não assumir a responsabilidade de nosso próprio ser, ou da responsabilidade de nossa vida e relacionamentos”.
De fato, deixamos para trás, temporariamente, nosso eu consciente, nosso ego com todos os seus desejos e necessidades de sobrevivência. Isso nos permite descobrir, no silêncio, todo o nosso ser e seu centro, nosso verdadeiro eu. Ao fazer isso, permitimos que essa parte espiritual, essencial de nosso ser, permeie e influencie nosso ser superficial, nosso ego, por meio do dom de uma visão verdadeira das situações em que nos encontramos, e de sua sabedoria. Na verdade, aceitamos mais profundamente, com sabedoria e compreensão “a responsabilidade de nosso próprio ser, ou a responsabilidade de nossa vida e relacionamentos”.
Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL