Carta 22 – Rompendo a Ilusão

 Cara(o) Amiga(o)

John Main sempre nos aponta para além do âmbito do nosso ‘ego’ em direção à esfera do ‘verdadeiro eu’, da ilusão para a realidade, e vê na meditação um caminho essencial para fazer isso: “A meditação é uma forma de romper com um mundo de ilusão em direção à pura luz da realidade”. Ele não se referia aos modos de ser do “cérebro esquerdo” e do “cérebro direito”, como fiz em cartas anteriores, mas isso não diminui o fato dele estar plenamente ciente desses níveis complementares de consciência. Sua preocupação não era com palavras e ideias, mas tão somente com a experiência: a experiência da consciência do ‘verdadeiro eu’ fundindo-se com a consciência de Cristo e, por meio dele com o Divino. Como ele disse em ‘A Palavra que leva ao Silêncio’, “Ao renunciar a si mesmo (ao ‘ego’) entramos no silêncio, e nos concentramos no Outro. A verdade a ser revelada é a da harmonia de nosso Eu com o Outro. Nas palavras do poeta Sufi: ‘Eu vi meu Senhor, com os olhos do meu coração, e disse: “Quem é o Senhor?” “Você mesmo”, Ele respondeu’.

Existe perigo em se falar das formas com que o ‘cérebro esquerdo’, e o ‘cérebro direito’, percebem a realidade. Devemos ter cuidado para não começar a externalizar esses diferentes aspectos de nossa consciência como “objetos” ligados a (ou no pensamento de alguns cientistas reducionistas atuais como causados por) essas duas metades do cérebro. Isso leva à fragmentação de nosso ser interior, e não à inteireza para qual John Main nos aponta. Ao enfatizar a experiência e nos encorajar a deixar o “ego” racionalizador para trás, ele está nos ajudando a evitar essa armadilha. Ele estava consciente de que a única coisa que a ciência, a filosofia e a teologia nos ensinam é a impossibilidade básica de nossas limitadas capacidades racionais de compreender a “realidade, como ela é, infinita”.

Não há respostas corretas definitivas; as teorias frequentemente contradizem e suplantam as tentativas anteriores de interpretações pessoais limitadas. John Main em ‘A Palavra que leva ao Silêncio’ citou Alfred Whitehead: “É impossível meditar sobre o tempo, e o mistério da passagem criativa da natureza, sem uma emoção avassaladora frente às limitações da inteligência humana”. Sem dúvida, há um desejo na humanidade em querer compreender a realidade. No entanto é o nosso ‘ego’ que adora teorizar sobre a Realidade Última, e sua busca por conhecimento, até porque leva a uma sensação ilusória de estar no controle.

Além disso, ao falar das formas do cérebro “esquerdo” e do cérebro “direito” de acessar a realidade, não devemos esquecer que conhecemos tão pouco acerca do cérebro, quanto sabemos acerca de todo o cosmos. Até o cérebro tem sua “matéria escura”. Embora os exames a que submetemos o cérebro sejam capazes de apontar as áreas envolvidas em determinadas atividades, na verdade isso prova tão pouco quanto dizer que nossa mão é usada para agarrar objetos. O que isso diz sobre todo o nosso ser? Quando se trata da própria consciência, sabemos menos do que nada. É um mistério total.

A experiência, no entanto, nos ensina que existem diferentes maneiras de ser. Se focarmos no ‘ego’ e em suas preocupações com a sobrevivência, seremos apanhados pela “ilusão de ótica de nossa separatividade”, como disse Einstein. Se deixarmos de lado todos os pensamentos e imagens e prestarmos atenção apenas à nossa palavra de oração “despertaremos… para uma comunhão completa de todos os seres no próprio Ser”, tal como John Main descreveu em ‘A Palavra que leva ao Silêncio’.

Kim Nataraja

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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