Carta 46 – Deixando os Pensamentos Para Trás
Cara(o) Amiga(o)
Já vimos a importância que a Tradição dá à necessidade de abrir mão de nossos pensamentos. Uma das consequências importantes disso é que isso nos ajuda a permanecer no momento presente. Ao nos concentrarmos em nossa ‘palavra’, deixamos para trás os pensamentos que sempre nos ligam ao passado ou ao futuro. Observe por um momento os seus pensamentos. É ou não é verdade que eles se referem sempre às suas preocupações, esperanças e temores, sobre o que aconteceu, ou o que pode vir a acontecer? Empregamos o momento atual apenas como um degrau para alcançar o futuro, ou então um espaço para olharmos ansiosamente para o passado. Não deixamos lugar para o próprio momento presente. E, no entanto, as Escrituras nos revelam que a natureza essencial de Deus é ‘puro ser’. Quando Deus chamou Moisés pela primeira vez, Ele disse ‘Eu sou o Deus de teus ancestrais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó’. Esse é o aspecto de Deus na história humana. Todavia, quando Moisés pergunta a Deus o Seu nome, Ele responde: ‘Eu sou o que Eu sou’. O ‘nome’ de Deus, Sua natureza essencial é, portanto, o ‘puro ser’ no momento presente. Portanto, o momento presente é o ‘caminho estreito’ pelo qual devemos passar, para entrar na Presença de Deus que habita em nosso interior.
Deixarmos os pensamentos para trás constitui, portanto, uma parte essencial de nossa prática. Mas, também, podemos perguntar onde é que Jesus nos diz para deixarmos os pensamentos para trás. Mais uma vez o Evangelho de Mateus nos orienta: ‘Portanto vos digo: não andeis inquietos nem com o que é preciso para vos alimentar a vida, nem com o que vos é preciso para vestir o corpo. Porventura não vale mais a vida do que o alimento, e o corpo mais do que a vestimenta’? Todas as nossas preocupações se referem principalmente à nossa sobrevivência. E Jesus nos diz muito claramente que a vida é mais do que apenas sobrevivência. ‘Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo’. Ao invés de nos concentrarmos em nossos pensamentos, temos que nos focar resolutamente em Deus repetindo a nossa oração, ‘maranatha’, uma das mais antigas orações cristãs. Esta oração é a nossa âncora que nos fixa na Presença Divina.
Esta forma de oração, este ‘abandono do si mesmo’ requer confiança – confiança de que Deus aí está, também para nós. Jesus está consciente de nossa dificuldade, e enfatiza que Deus cuida de toda a criação, as aves, os lírios do campo, até a relva, e nos encoraja a ter fé de que nós também estamos sob os cuidados de Deus, que Ele também nos vestirá e alimentará, pois ‘vosso Pai sabe que tendes necessidade de todas essas coisas’. Tudo que precisamos fazer é manter o foco na nossa relação com Deus, no momento presente. ‘Não queirais, pois, andar inquietos pelo dia de amanhã. Porque o dia de amanhã cuidará de si’. Devemos lidar com os desafios que se apresentam a cada momento. Vamos conseguir isso centrando-nos na paz do espírito através da ‘oração contínua’, repetindo constantemente nosso mantra, ancorando-nos constantemente na presença de Deus. Encontramos a mesma recomendação nas Escrituras:
‘Orai sem cessar’! (Ts 5, 17) e ‘Importa orar sempre e não cessar de o fazer’ (Lc 18,1)
João Cassiano enfatiza: ‘Digo que é preciso meditar constantemente sobre este verso no seu coração. Não deixe de repeti-lo enquanto trabalha, enquanto realiza algum serviço ou enquanto viaja. Continue a meditar ao dormir e comer e enquanto atende às menores necessidades da natureza’.
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL