carta 40 – Significado e relacionamento

Cada um de nós nasce com o conhecimento em um nível profundo de qual é o sentido de nossa vida. Mas esse sentido não pode ser acessado pela mente discursiva. Ele só pode ser encontrado no silêncio da oração contemplativa. Nós, então, experimentalmente e através de nossa inteligência intuitiva, descobrimos esse significado, que sempre esteve presente na base do nosso ser, onde estamos em união com o Amor Divino. Esse conhecimento experiencial permeia, então, todo o nosso ser e a nossa relação com os outros e com a criação. Como diz Laurence Freeman em Jesus, o Mestre Interior: “Pelo amor somos reintegrados à comunidade do universo a que pertencemos”.

Esse modo de ser não depende sequer das circunstâncias exteriores. Victor Frankl, em seu livro Em Busca de Sentido, descreve uma situação no campo de concentração onde se encontrava durante a Segunda Guerra Mundial: “Nós, que vivemos em campos de concentração, podemos nos lembrar dos homens que andavam pelos alojamentos confortando os outros, dando seu último pedaço de pão… O tipo de pessoa que o prisioneiro se tornou foi o resultado de uma decisão interna.” Uma decisão interior que se baseou na experiência sentida do Amor Divino em seu centro, apesar das terríveis circunstâncias. Essa conexão com a Fonte lhes deu a liberdade de escolher como agir como um ser verdadeiramente humano, apesar de tudo o que os cercava. Esta é a verdadeira liberdade, que dá sentido e propósito a tudo o que fazemos e a tudo o que somos. É sempre mais evidente em nossas relações com os outros e a criação.

John Main também enfatizou a importância dessa atitude em The Inner Christ: “Somente quando vivemos no, e a partir do, amor é que conhecemos aquela milagrosa harmonia e integração de todo o nosso ser que nos torna plenamente humanos”. Infelizmente muitos não acessam esse nível de seu ser, como se vê de toda a miséria do mundo que nos cerca. Na verdade, o que William James disse no início do século XX ainda é muito relevante: “A maioria das pessoas vive… em um círculo muito restrito de seu ser [em] potencial. Eles fazem uso de uma porção muito pequena do potencial de sua consciência, e dos recursos da alma em geral, muito parecido com um homem que, a partir de todo o seu organismo, deveria adquirir o hábito de usar e mover apenas o dedo mindinho.”

A transformação de todo o nosso ser, que inclui nossas atitudes e opiniões, é a etapa mais importante de nossa vida e é especialmente benéfica para os outros e para o mundo em que vivemos. Mudando nossas opiniões, mudamos a nós mesmos, e mudando a nós mesmos podemos mudar o mundo. A maneira mais eficaz de fazê-lo, em minha própria experiência, é meditar e conscientizar os outros sobre o papel que a meditação pode desempenhar em suas vidas. Quando a ênfase é na meditação como uma prática espiritual e não como uma forma de lidar com as tensões da vida contemporânea, ela se tornará um caminho para o autoconhecimento e, consequentemente, permitirá um crescimento em todo o nosso potencial. John Main diz em A palavra que leva ao silêncio:

“A tarefa que temos é encontrar nosso caminho de volta ao nosso centro criativo, onde a totalidade e a harmonia se realizam, para habitar dentro de nós mesmos, deixando para trás todas as falsas imagens de nós mesmos, como o que pensamos ser ou o que achamos que poderíamos ter sido, porque estas têm uma existência irreal fora de nós”. Essa transformação não é se tornar outra pessoa, mas tornar-se aquela [pessoa] que você já é verdadeiramente. Como disse Jung em Civilização em Transição: “À pergunta constantemente reiterada ‘O que posso fazer?’ não conheço outra resposta a não ser: ‘Torna-te o que sempre foste’, a saber, a totalidade que perdemos no meio da nossa existência consciente civilizada, uma totalidade que sempre fomos sem a sabermos.”

Kim Nataraja

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