Carta 39 – A Vocação Humana
Cara(o) Amiga(o)
Nosso próximo mestre é Evágrio Pôntico, que a princípio era membro ativo da Igreja “ortodoxa” oficial no quarto século dC; ele contribuiu intensamente para todos os debates que marcaram a igreja em seus primórdios, debates esses que versavam basicamente sobre quem Jesus era realmente, e o que sua vida e ensinamentos significavam. `Posteriormente, por razões pessoais, ele abandonou a vida mundana e tornou-se um muito amado e respeitado “Padre do Deserto”, um verdadeiro “Abba”. Ele era muito procurado para orientação espiritual, por homens e mulheres cristãos comuns que, como ele, tinham se retirado para o deserto egípcio para levar uma vida autenticamente cristã, tendo Jesus como exemplo.
Evágrio levou uma vida extremamente ascética, totalmente dedicada à oração, como podemos ver a partir desta variante do que diz o Evangelho: “Vai, vende teus bens e dá-os aos pobres, e toma a tua cruz para que possas rezar sem distração”. Orar e seguir Jesus era a mesma coisa para ele. Mas, sua ênfase estava na oração privada: “A vanglória recomenda rezar nas praças, mas quem resiste a isso, reza em seu quarto.”
Por causa de sua vida no mundo, e no deserto, ele apreciava a importância da teologia, da fé e da real experiência espiritual. Ele não separava estes aspectos: “Se você é um teólogo você ora verdadeiramente. Se você ora verdadeiramente, você é um teólogo”. “Teologia e oração contemplativa andavam de mãos dadas nos primeiros séculos do cristianismo.
Evágrio estava absolutamente convencido de que a vocação humana é a de descobrir a “imagem Divina interior” e alcançar a “semelhança” divina. Ele imaginava essa jornada espiritual como tendo dois estágios: ‘praxis’ e ‘theoria’. “Praxis” significa o caminho espiritual, com a oração ajudando-nos a atingir o auto-conhecimento, a compreender os nossos desejos egóicos que nos impedem de atingir nosso verdadeiro Eu. Quanto mais sabemos quem realmente somos, mais podemos abandonar nossos vícios e atuar de acordo com as nossas virtudes.
“Theoria” é a contemplação de Deus. Evágrio entende a própria “theoria” como consistindo de dois estágios: a Natureza, criação de Deus, é o primeiro nível de contemplação, de manifestação do Não-Manifesto; a Criação, que nos inclui, e é vista como essencialmente boa; por isso, permite-nos penetrar a superfície da realidade comum, ultrapassando-a e chegando à Realidade Divina: “Quanto àqueles que estão longe de Deus … Deus tornou possível para eles aproximarem-se do conhecimento Dele e de Seu amor por eles por intermédio das criaturas. “Portanto, não apenas a Escritura, mas também a própria natureza nos leva a uma sensação de “saber”, a um sentido de interconexão, um sentimento de maravilhamento.
O segundo nível de contemplação é a contemplação das coisas que não são percebidas pelos sentidos, mas “por um simples vislumbre do espírito”. Esta é a oração “pura”, que só é possível indo além da superfície, gradualmente desprendendo-se de todos os pensamentos, imagens e formas. É uma mudança, da multiplicidade para a simplicidade. É a meditação.
por Kim Nataraja
Até a próxima semana!
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL