Carta 47 – Atenção
Cara(o) Amiga(o)
Prestar atenção unidirecionada à nossa palavra! Essa é a essência da meditação. John Main sempre ressaltava: ‘Apenas repita a sua palavra’. Não há necessidade de mais nada. Mas, como você bem sabe, a mente continua a se distrair com devaneios, e está sempre se preocupando e planejando. Daí a importância de nossa palavra, que nos ajuda a focar em uma só direção.
Existe uma estória indiana que ilustra bem a utilidade de uma ajuda para a concentração:
Os elefantes são retratados com frequência como sendo pacíficos, sábios e bem comportados, mas não o são. Se escaparem ao controle, andam a esmo, esbarrando e derrubando as coisas no seu caminho. Sempre que possível, suas trombas marotas tomam tudo que for tentador e estiver disponível em seu caminho – bananas, mangas etc.
Os mahouts, ou treinadores de elefantes, estão bem conscientes disto e quando são obrigados a levar o animal por ruas apinhadas de gente em procissões religiosas ou casamentos, eles recorrem a duas maneiras de controlar o comportamento do elefante. Primeiro eles o ornam com enfeites e uma cadeira no dorso para que ele se sinta importante. Isto o incentiva a caminhar com um passo cuidadoso e comedido. Em segundo lugar, eles dão à tromba marota uma vara para se ocupar e desta maneira o animal a ostenta orgulhosamente e não cede à tentação de tomar petiscos saborosos.
Nossa mente, na verdade, se parece a esse elefante: se, assim como o mahout, dissermos à mente que estamos fazendo algo muito importante e lhe dermos algo para se ocupar, como um mantra, aquilo que é aparentemente impossível, torna-se possível. Se aceitarmos a natureza volúvel de nossa mente e criarmos estratégias para lidar com isso ao invés de nos irritarmos ou zangarmos, ela também estará menos tentada a seguir suas próprias inclinações e caprichos, e será menos inclinada a sair perambulando por aí.
Existe uma ligação indissociável entre a atenção e a oração. “Quando a atenção busca a oração, encontra-a. Pois, se há algo que anda nas vias da atenção, esse algo é a oração, e desse modo deve ser cultivada.” (Evágrio)
No Evangelho de S. Marcos (13, 33-37) Jesus nos diz: “Estai de sobreaviso. Vigiai e orai, porque não sabeis quando será o tempo.” Não sabemos em que etapa de nossa meditação o Espírito assumirá o controle, e nos conduzirá para o interior da corrente de amor entre Cristo e o Criador. Todavia, não reconheceremos seus sinais, caso ainda estejamos ocupados com nossos próprios pensamentos, ao invés de estarmos repetindo a nossa palavra de oração, com amor confiante e sem expectativas: ‘Vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais”.
A beleza do amor e da confiança incondicional das crianças e de sua maravilhosa capacidade de ficarem totalmente absortas no que fazem, é uma atitude que devemos recuperar. “Na verdade, vos digo que, se vos não converterdes e vos não tornardes como os pequeninos, não entrareis no reino dos céus.” (Mt 18, 1-4). Faz-se necessária uma total absorção em nossa palavra, para que sejamos levados à Divina Presença.
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL