Carta 48 – Imagens como obstáculos em nosso caminho espiritual

Cara(o) Amiga(o)

Muitas vezes quando as pessoas meditam e sentem-se escorregar para o silêncio elas param com medo e pânico. Por que isso é tão frequente? Tem a ver com a nossa imagem de Deus e nossa autoimagem. Elas podem ser de natureza tal a tornar desafiador demais entrar na presença silenciosa do espírito de Cristo em nosso interior. Pensamentos como “Será que Deus realmente ama e perdoa incondicionalmente?”, “Será que ele não vai me considerar despreparado?”, nos fazem parar repentinamente.

Se nossa formação foi a de “Deus, o Pai” e se nossa experiência de nosso próprio pai esteve longe de nos nutrir, nos sentimos rejeitados, criticados, agredidos – esta imagem não nos dará a confiança necessária para que nos abandonemos e entremos no silêncio. Não apenas Deus parecerá alguém a ser temido e evitado, mas também a nossa autoimagem será a de alguém totalmente indigno da atenção de Deus. Mesmo se chamarmos e pensarmos em Deus como “Mãe”, isso não será realmente uma solução para o problema – estaremos apenas substituindo uma imagem por outra. Outras pessoas podem ter tido a mesma experiência de rejeição com sua mãe.

Se Deus é visto como um juiz, ele se torna alguém a ser evitado ao invés de alguém com quem nos relacionar, já que muitos de nós carregamos um fardo de consciência de culpa. Então, por que iríamos querer entrar no silêncio para estar em Sua Presença? Por que iríamos querer nos colocar em uma posição onde poderíamos ser julgados e rejeitados?

A imagem de Deus como um juiz é muito comum mesmo no presente. Alguns de nós ainda acreditam que a nossa sorte é uma recompensa da parte de Deus por vivermos uma existência justa, e nossa desgraça é um castigo por quebrar os Seus mandamentos. Essa crença era tão comum, mesmo no tempo de Jesus, “que até mesmo os seus discípulos ficaram chocados quando Jesus propôs uma maneira radicalmente diferente de olhar, tanto o sofrimento, quanto o bem-estar. Boa sorte, estar confortável e abastado pode, de fato, disse ele, ser uma maldição disfarçada.” (“Jesus o Mestre Interior” – Laurence Freeman OSB).

Há outros condicionamentos religiosos que podem ser um obstáculo real no caminho para o Divino. Se nós fomos criados em uma religião estritamente confessional, onde formas diferentes de oração eram desaprovadas, podemos sentir que seguindo o caminho de meditação estaremos sendo desleais para com nossos pais. Das duas uma, ou isso interrompe nosso caminho, ou, se continuamos nossa busca, nos faz sentir divididos em nós mesmos.

O nosso crescimento espiritual está marcado por nossas diferentes imagens de Deus, e está refletido nelas. Mas, todos nós mudamos em ritmos diferentes. Devemos, portanto, tomar cuidado para não trilhar segundo as imagens dos outros. João Cassiano conta em suas “Conferências” a história de um monge do deserto do século quarto a quem ordenaram abandonar sua imagem antropomórfica de Deus. Ele obedeceu, mas um pouco mais tarde, ouviu-se o seu grito angustiado que era de cortar o coração: “Ai de mim, infeliz que sou! Eles tomaram meu Deus de mim, e eu não tenho mais ninguém a quem possa me apegar, nem sei a quem deveria eu me voltar ou adorar!”

Mas, se perseverarmos com a meditação, iremos experienciar a Realidade Divina que encontramos no silêncio da meditação como sendo a do amor e da aceitação de quem somos, assim como somos. Nossas más ações serão de uma só vez dissolvidas pelo perdão divino, tal como a parábola do Filho Pródigo nos mostra.

por Kim Nataraja

 Até a próxima semana!

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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