carta 28 – Primeiro nível da distração
Nós ansiamos pela integridade e unidade, além da diversidade que cientistas e místicos consideram. Nós realmente sabemos também que a meditação é um caminho nesta direção. Mas nós também sabemos que “Tão logo começamos a meditar, nós descobrimos o nível primeiro e superficial da consciência: agitação, tontura, indisciplina, atividade mental distraída, e fantasias desenfreadas.” (p.208)
No momento que nos sentamos para meditar e tentar focar em nosso mantra, pensamentos aglomerados chegam e, o mantra recebe apenas uma olhada ocasional. O problema é que quando nós aquietamos nosso corpo, nós deixamos nossos pensamentos fazer a caminhada. Nós vagamos em devaneios descendo a estrada da memória, esperando, nos preocupando; internamente nós somos preenchidos com um barulho perpétuo e movimento, num louco turbilhão de pensamentos desconexos. Logo, começamos a sentir-nos desencorajados e pensamos que talvez não estejamos destinados a fazer isto.
Mas persevere! Apenas concentre-se no mantra com plena atenção e aceite o que acontece. Nossos pensamentos, por mais caóticos que eles possam ser, também têm o direito de estarem lá. Aceitação é a chave. Jung disse: “A sabedoria começa quando aceitamos as coisas como elas são; do contrário, não chegamos a lugar algum.” Mas somos tão acostumados a criticar e julgar a nós mesmos que ficamos
irritados quando nos sentamos para meditar e os pensamentos apenas se aglomeram. Mas por mais que nos irritemos conosco mesmos, quanto mais tentamos suprimir os pensamentos, mais persistentes eles se tornam. Em vez de unificar nossa mente, nós a estamos dividindo: uma parte de nossa mente luta contra a outra.
Uma imagem surge na mente: eu me lembro anos atrás um anúncio sobre meditação. Era um poster de um Guru Indiano, em trajes típicos, perfeitamente equilibrado em uma prancha de surfe, surfando ondas. Abaixo estava escrita a frase: “Você não pode parar as ondas, mas você pode aprender a surfar.” Na meditação, nossa prancha de surfe é o nosso mantra e os nossos pensamentos são as ondas. Por vezes nós somos capazes de surfá-las com habilidade; outras vezes, os pensamentos, como as ondas se acalmam, o mar é suave e calmo – nós nos deitamos tranquilamente na nossa prancha, o nosso mantra – e nossa mente está quieta e calma. E, novamente, em outros momentos há tantos pensamentos zumbindo ao redor que nem podemos pegar o mantra. O mar parece muito difícil para surfar. Apenas aceite que é a maneira como você está hoje. Contudo, algumas vezes, mesmo com a meditação cheia de pensamentos nós nos sentimos em paz. A superfície de nossa mente e o mar podem estar ásperos, mas no fundo ainda há quietude e paz duradoura que nos influencia.
É importante lembrar que os pensamentos e imagens nos mantêm aprisionados em um tempo linear – passado, presente e futuro, a linha do tempo. Em nossa mente, nós tendemos a gastar mais tempo no passado e no futuro do que realmente no momento presente. Ao prestarmos atenção e aumentarmos nossa consciência, nós liberamos da linha do tempo. Há apenas o agora.
O agora, como Santo Agostinho expressou tão bem em seu “Confissões”: “Há três tempos: o presente de coisas passadas, o presente de coisas presentes e o presente do futuro… memória… atenção… expectativa.” A consciência verdadeira de uma experiência é sempre no presente, no Aqui e no Agora. Memória, pensamentos, trazem o passado ao presente. Expectativa, pensamentos trazem o futuro ao presente. Por meio da atenção a meditação nos ensina a permanecer no momento presente. Somente no momento presente podemos acessar a Realidade Divina. A atenção é, na verdade, “o portão estreito que nos leva para a Vida”. Somente no momento presente o tempo cruza com o atemporal: tempo passado e tempo futuro.
O que poderia ter sido e o que foi apontam para uma extremidade que é sempre presente. T.S. Eliot (Four Quartets)
Kim Nataraja