Segunda semana da Quaresma

Segunda-feira da Segunda Semana da Quaresma

Por Laurence Freeman OSB

O teólogo medieval Tomás de Aquino chamou a beleza de “um tipo de conhecimento”. Dostoiévski disse a seguinte frase famosa: “A beleza salvará o mundo”. Mais pessoalmente e, portanto, de modo menos abstrato, vocês concordam comigo que quando encontramos algo bonito nós o amamos? Será que poderíamos lembrar por um momento de algumas coisas que pudessem nos despertar esse senso de beleza? Acredito que muitas vezes exista um fator surpresa considerável quando algo que não consideramos especial revela a novidade tranquilizadora de que a beleza vive no mundo, mesmo que nem sempre possamos vê-la.

Por exemplo, uma pessoa que está fazendo algo para você como parte de seu trabalho remunerado. Algumas pessoas para ajudá-lo, parecem estar sendo forçadas a isso e gostariam que pagássemos logo e fôssemos embora rapidamente. Outras realizam suas tarefas com eficiência e cortesia, mas sem personalizar o ato. Ocasionalmente há alguém que por algum motivo mágico nos faz sentir a presença do altruísmo. É a sua própria presença, mas também é algo que brilha através dos seus modos com uma gentileza relaxada, superconfiante, mas totalmente não coercitiva, que por um momento nos faz sentir uma pessoa melhor e mais feliz simplesmente porque outro ser humano está se relacionando conosco do mesmo modo.

Para os céticos entre nós talvez possa haver razões inconscientes para isso – a pessoa lembra alguém de quem gostamos ou é atraente de outras maneiras. Mas esses fatores não explicam o sentido da graça. Isto significa uma energia ou presença que tem um caráter impenetrável, um sinal de que é pura bondade, amor agápico.

É belo e é sem esforço. Em obras de arte que nos tocam profundamente e conferem uma perspectiva óbvia sobre o mundo, mas que são surpreendentes, familiares e ainda refrescantes – seja música, um romance, poesia, pintura ou filme ou desenho infantil – a beleza é sempre sentida sem esforço. O ego e o trabalho criativo do artista foram totalmente absorvidos na obra final.

A beleza é uma manifestação da graça. Está sempre tão presente ao nosso redor quanto o oxigênio. A beleza foi criada apenas uma vez: é uma janela que se abre para o atemporal. Mas é a natureza essencial de todas as coisas e de todas as pessoas. É por isso que pode surgir repentinamente em qualquer lugar.

Isto é parte do trabalho da Quaresma, nos sensibilizarmos, apesar das notícias diárias e da desarmonia que nos rodeia, à beleza em que vivemos, nos movemos e existimos.


Texto original

Monday Second Week of Lent

The medieval theologian, Thomas Aquinas, called beauty ‘a kind of knowledge’. Dostoevsky famously said that ‘beauty will save the world’. More personally and so less abstractly, would you agree with me that when we find anything beautiful we love it? Could you call to mind for a moment a few things that can awaken this sense of beauty in you? I find there’s often there’s a big element of surprise when something we didn’t think special reveals the reassuring news that beauty does live in the world even if we cannot always see it.     

For example, a person who is doing something for you as part of their paid work. When some people some to help you they look as if they are being forced to and wish you would pay and go away quickly. Others do their task efficiently and with courtesy but without personalising it. Occasionally there is someone who for some magical reason makes you feel the presence of selflessness. It is their own presence but also something shines through their manner with a relaxed, super-confident yet totally uncoercive kindness that for a while makes you feel a  happier and a better person simply because another human being is relating to you in this way.

For the sceptics among us, there may also be unconscious reasons for this – the person reminds you of someone you like or are attractive in other ways. But these factors wouldn’t explain the sense of grace. This means an energy or presence which has an impenetrable motive, which is a sign of it being pure goodness, agapic love.

It is ‘beautiful’ and effortless. In works of art that touch you deeply and bestow a perspective on the world which is obvious but surprising, familiar and yet fresh – whether it’s in music, a novel, poetry, painting or film or a child’s drawing – beauty is always felt as effortless. The ego and the creative labour of the artist have been absorbed fully in the final work.

Beauty is a manifestation of grace. It is as present around us always as oxygen. Beauty was only created once: it is a window opening onto the timeless. But it is the essential nature of all things and every person. This is why it can emerge suddenly anywhere. That is part of the work of Lent to sensitise ourselves, despite the daily news and the disharmony around us, to the beauty in which we live and move and have our being.

Publicações similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *