Dia de Natal
Os primeiros discípulos de Cristo ainda não tinham certidões batismais. Mas eles fizeram uma profunda pergunta teológica de honestidade infantil. “De que me serve se ele nasce em Belém uma vez, se não nasce de novo no meu coração na fé? Celebramos o nascimento histórico porque ele reproduz o nascimento eterno da palavra no abismo do ser do Pai. O mais próximo que podemos chegar de imaginar isso é pensar nas distâncias cósmicas e horizontes do espaço-tempo.
Uma questão em que podemos nos concentrar sem ficarmos tontos é “como nos preparamos para o nascimento em nossa alma”. Eckhart nos dá uma pista: tal alma precisa ser pura, viver bem e ser unificada. A palavra é então dita no mais profundo silêncio. Num espaço onde nenhuma palavra ou pensamento entra.
O que nos impulsiona para esse trabalho de preparação? Não o desejo ou a ambição, mas o amor à pobreza e ao vazio pelo qual estamos convencidos de que este e nenhum outro é o caminho. Permitindo que esse estranho amor nos mova, tomamos consciência de “algo em mim que brilha em minha consciência. Percebo claramente que é alguma coisa, mas o que é não posso dizer.”
Toda a história da Natividade confirma essa sabedoria do fracasso e da rejeição da busca pelo sucesso. A história simboliza lindamente toda a vida e o ensino dos próximos trinta e três anos da criança.
Isto aplica-se especialmente ao trabalho preparatório que precisamos de fazer para preparar o nascimento interior. Quanto do nosso trabalho pelo silêncio é bem-sucedido? Durante as últimas semanas, muitas vezes tentei meditar em condições difíceis. Gostaria de dizer que consegui mesmo quando as condições se tornaram demais. Alguma esperança! Se foi causada pela dor, senti como nossa dor individual reflete o sofrimento universal da humanidade suportado por Jesus ressuscitado. (Por mais que queiramos, não tira a dor). Fico com uma sensação de pobreza e vazio.
O que acontece na minha tentativa de meditar? Um novo meditador online me encantou na semana passada com sua própria conclusão: “quando não consigo controlar meus pensamentos, sei que ainda estava fazendo um bom trabalho. Eu estava meditando – ou talvez o Espírito estivesse fazendo isso por mim”. Algo estava acontecendo.
Nosso dom para o mundo é acreditar de todo o coração no irrefreável processo de nascimento. Dessa totalidade dizemos feliz Natal e reverenciamos a vida.
TEXTO ORIGINAL
Christmas Day 2023
The early disciples of Christ did not yet have baptismal certificates. But they asked a profound theological question of childlike honesty. ‘What good does it do me if he is born in Bethlehem once if he is not born again in my heart in faith? We celebrate the historical birth because it replays the eternal birth of the word in the abyss of the father’s being. The closest we can come to imagine this is to think of the cosmic distances and horizons of space-time.
A question we can focus on without going dizzy is ‘how do we prepare ourselves for the birth in our soul’. Eckhart gives a clue – such a soul needs to be pure, live well and be unified. The word is then spoken in the deepest silence. In a space where no word or thought enters.
What propels us for this work of preparation? Not desire or ambition but a love of poverty and emptiness by which we are convinced that this, and no other, is the way. Allowing that strange love to move us, we become aware of ‘something in me that shines in my consciousness. I can clearly perceive that it is something but what it is I cannot say.’
The whole story of the Nativity confirms this wisdom of failure and rejection of the pursuit of success. The story beautifully symbolises the whole of the life and teaching of the child’s next thirty-three years.
This applies especially to the preparatory work we do need to do to prepare for the interior birth. How much of our work for silence feels successful? During the past weeks I have often tried to meditate in difficult conditions. I’d like to say I succeeded even when the conditions became too much. Some hope! If it was caused by pain, I have sensed how our individual pain reflects the universal suffering of humanity borne by the risen Jesus. Much as we might wish, it doesn’t take the pain away). I am left with a sense of poverty and emptiness.
What happens in my attempt to meditate? A new meditator online delighted me last week with his own conclusion: ‘when I fail to control my thoughts, I know I was still doing a good work. I was meditating – or maybe the Spirit was doing it for me’ Something was happening.
Our gift to the world is to believe wholeheartedly in the unstoppable birth process. From that wholeness we say happy Christmas and reverence life.
