Carta 23 – Jesus histórico

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Sabemos que o Cristo interior representava papel primordial na experiência que John Main teve em sua jornada espiritual. No livro ‘O Momento de Cristo’ ele afirma que “a plenitude da divindade habita o Cristo e o Cristo nos habita”. Mas, que importância ele atribuiu ao Jesus histórico? Na introdução ao capítulo dois do livro ‘Ensino Essencial’ de John Main, Laurence Freeman diz: “John Main salientou a importância da humanidade de Jesus de Nazaré, que despertou para si mesmo dentro das limitações mortais que todos nós conhecemos… Ele se reconhecia como o Filho recebendo e retribuindo o amor do Pai… E assim, sua autodescoberta tem mais do que um significado individual: é o “despertar único e plenamente inclusivo” da consciência humana para sua fonte em Deus”.

Isso é difícil de ser aceito racionalmente, como o próprio John Main expressou em ‘O Momento de Cristo’ “Se você viver no nível das palavras, o cristianismo não fica crível. Seria difícil de acreditar que é nosso destino ter um acesso tão perfeito ao Pai e ao Espírito… É somente na experiência da oração que a verdade da revelação cristã nos domina”.Os primeiros cristãos compartilhavam a visão de John Main de que o destino da humanidade era o de tornar-se semelhante a Deus. O Bispo Calistos, no seu livro ”Journey to the Heart’ no capítulo sobre Clemente de Alexandria, cita o padre Irineu da Igreja do século II: ‘Ele se tornou o que somos, para que pudesse nos fazer ser o que Ele é’. A consequência é que Jesus, por meio de seu ensino e exemplo vivo, lembrou a seus seguidores o potencial deles, que é ao mesmo tempo a origem e fundamento atual do seu ser. A preocupação deles e a do nosso “ego” com o mundo e a realidade material geram confusão e ilusão, e nos cegam para essa verdade. Jesus nos encoraja a libertarmo-nos do domínio do ‘ego’ e nos conduz ao nosso ‘verdadeiro eu’, no centro do nosso ser. “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo … mas, quem perder a sua vida por amor de mim, há de encontrá-la”. (Mt 16, 25-26).

O ensinamento de Jesus visa a nos despertar para a verdade do nosso ser, e isso só é possível por meio da experiência imediata que a oração oferece. Daí a ênfase de John Main em, durante a meditação, deixar fluir todos os pensamentos e imagens que nos prendem a este plano de existência. A essência da missão de Jesus não era nos libertar do pecado, mas da ignorância da verdade do nosso verdadeiro ser que é o que causa o pecado.

Este é o verdadeiro sentido da salvação. Dom Calistos continua em seu capítulo: “Da mesma forma, a salvação não significa apenas imitar Cristo por meio do esforço moral. Pelo contrário, a salvação significa que compartilhamos da vida e do poder de Deus. Esta partilha resulta numa total transformação interior”. Laurence Freeman em ‘Jesus, o Mestre Interior’ resume, dizendo: “Redenção [salvação] é saber com todo o nosso ser quem somos e de onde viemos”.

Kim Nataraja

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã

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