Carta 7 – Onde Oramos?
Cara(o) Amiga(o)
É interessante notar o quão difundido e influente foi o movimento cristão da tradição do deserto. No princípio, havia apenas alguns eremitas, mas no final do séc. IV havia pelo menos trinta mil homens e mulheres vivendo nos desertos do Egito, Palestina e Síria. “As palavras de Antão persuadiram muitos a assumir a vida solitária. E assim, a partir de então, surgiram mosteiros nas montanhas, e o deserto foi transformado em cidade pelos monges.” (Vida de Antão)
Este foi essencialmente um movimento leigo; nem mesmo Antão não era sacerdote. Somente com o passar do tempo, eremitas mais velhos foram ordenados, ainda que não chegassem a ser muitos. Eles viviam sozinhos, em pares ou em pequenos grupos. Reuniam-se no sábado e/ou domingo para o culto comum em um edifício central da comunidade era usado para muitos fins, e chamado de ‘ecclesia’. Eles se engajavam regularmente em orações privadas em suas células, aprendendo de cor a passagem das Escrituras que tinham ouvido. Faziam isso por meio da meditação – a repetição solitária de uma passagem da Escritura, sem reflexão sobre seu significado. Meditar nas Escrituras como podemos fazer, analisando-as linguística e textualmente não fazia parte da cultura de forma alguma. A meditação deles não significava pensar na Escritura, mas interiorizá-la, torná-la parte de si. Nesta cultura oral, esta repetição era feita em voz alta: “Nós o ouvimos meditando”. (Abba Amoun sobre Abba Aquiles) Além disso, eles sabiam de cor todos os salmos, que repetiam a cada vinte e quatro horas. Era um lugar barulhento, o deserto: as palavras dos salmos vinham de todas as direções! Eles combinavam trabalho e oração durante o dia, uma atitude de devoção impregnava sua vida. As passagens das Escrituras que eles interiorizavam em oração privada também podiam vir-lhes à mente durante o trabalho e revelar seu significado pessoal. Esta vida de oração foi alimentada pelo desejo de fazer o que São Paulo ensinou: “Orar sem cessar”. Evagrio disse mesmo “A vida é oração”.
A oração poderia acontecer em qualquer lugar: “Agora, quanto ao lugar, saiba que todo lugar é adequado para a oração se a pessoa orar bem … mas todos podem ter um lugar sagrado reservado e escolhido em sua própria casa (cela), se possível, para realizar suas orações em silêncio e sem distrações.” (Orígenes) Nem é preciso dizer que orar juntos no lugar central de reunião era considerado muito importante: “Um lugar de oração, o lugar onde os fiéis se reúnem, provavelmente terá um tanto de graça para nos ajudar, visto que os poderes angélicos estão próximos da multidão de crentes, bem como os poderes do nosso próprio Senhor e Salvador e os espíritos dos santos. Portanto, que ninguém despreze as orações nas igrejas, pois elas têm algo de excepcional para a pessoa que nelas se reúne genuinamente”. (Orígenes)
As mesmas ênfases são encontradas no ensinamento de John Main. A meditação é para todos, não apenas para pessoas religiosas, e pode ser feita em qualquer lugar. Existem grupos de homens e mulheres comuns em todo o mundo que se reúnem em casas, escritórios, locais de trabalho, igrejas, salões comunitários, escolas, escolas dominicais, academias de ginástica, prisões e hospitais. Qualquer lugar razoavelmente silencioso é apropriado.
Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL