Carta 8 – A Prática
Cara(o) Amiga(o)
A essa altura, todos já conhecemos a disciplina:
Sente-se. Sente-se quieta(o) e com a coluna ereta. Feche suavemente seus olhos. Sente-se relaxada(o), mas alerta. Silenciosa e interiormente comece a repetir uma simples palavra. Nós recomendamos a palavra/oração, Maranatha. Ouça-a à medida que você a repete, suave e continuamente. Nada pense ou imagine, mesmo de natureza espiritual. Caso ocorram pensamentos ou imagens, serão apenas distrações no período da meditação, e a cada vez simplesmente volte a repetir sua palavra. Medite de vinte a trinta minutos, toda manhã e toda noite.
‘Sentar-se quieto e com a coluna ereta’, não é tão simples quanto parece. Nosso corpo adquiriu maus hábitos em relação às posturas. No entanto, é importante manter uma posição ereta, com as costas tão retas quanto nosso corpo permita, confortavelmente. Assegure-se que seus ombros estejam soltos e relaxados. Juntamente com as costas retas, isso garante que seu peito esteja bem aberto, permitindo que uma quantidade suficiente de oxigênio circule pelo seu corpo, o que nos ajuda a nos manter alertas. Na verdade, não importa se nos sentamos em uma cadeira ou em posição de lótus completo, desde que isso nos permita manter a posição confortável e estável durante todo o tempo da meditação. Os pés ou joelhos devem estar firmes no chão, de modo que nossa posição seja de enraizamento: “A postura é um sinal exterior de nosso comprometimento interno com a disciplina da meditação… Ao lançarmos raízes em nós mesmos, nos tornamos enraizados em nosso próprio lugar da criação.” (John Main)
John Main também recomendava sentar-se “com as palmas das mãos para cima ou voltadas para baixo com o polegar e o indicador unidos.” Na tradição oriental, considera-se que unir o polegar e o indicador é importante para a circulação da energia através do corpo. Mas é, também, um excelente meio para nos mantermos alertas: quando nossa atenção diminui, notamos que nossos dedos também já não se tocam mais.
Sentar-se quieto e permanecer imóvel é, na verdade, o primeiro obstáculo na disciplina da meditação. Estamos tão acostumados a nos manter constantemente em movimento, fazendo coisas e reagindo a estímulos externos, que sentar-se quieto e nada fazer poderá parecer uma tarefa assustadora e incomum.
A inquietude está em nossa genética: nossos ancestrais foram todos eles membros de tribos nômades. Um bebê é um belo exemplo disto: toda mãe, pai ou responsável sabe que um bebê agitado se aquietará com o movimento, seja o do balanço do berço, o de ser carregado no colo andando, ou mesmo o de ser levado a passear no carrinho. Ao tentarmos sentar quietos e permanecer imóveis, estamos indo contra essa natureza. Permitir que o nosso corpo se aquiete, dando-lhe permissão de nada fazer, é o primeiro passo para nos contrapormos a essa tendência à inquietude.
Só a perseverança nessa atitude reduz a necessidade que sentimos de nos mover e agir, e nos permite tomar consciência das vantagens da quietude e do silêncio. Os Padres e Madres do Deserto, em cujos ensinamentos a meditação cristã se baseia, ressaltavam a importância de permanecer em um lugar:
“Um irmão da colônia monástica de Cétia no Egito, foi pedir uma palavra ao Abba Moisés, e o velho homem disse-lhe, ‘Vá e sente-se em sua cela, e sua cela lhe ensinará tudo’.”
Quando a inquietude deixar nosso corpo, ela se transferirá para nossa mente, como veremos na próxima semana.
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL