carta 9 – Meditação é para todos

Estamos tão acostumados a pensar em nós mesmos como “basicamente pecadores” que achamos difícil aceitar a afirmação das Escrituras de que “o Reino (Presença) de Deus está dentro de nós” e de que somos “Templos do Espírito Santo”. Se pudermos, realmente, aceitar esta “verdade“ poderemos começar a sentir algo de nossa própria potencialidade… na meditação descobrimos tanto ‘quem somos’ quanto ‘por que somos’. Esse entendimento surge do silêncio da oração contemplativa, na qual “nos voltamos para, e experimentamos, o Espirito vivo de Deus habitando em nossos corações”.

É a meditação que abre as portas a este silêncio e a esta experiência profunda. É a meditação que traz a mente para o coração, como diziam os primeiros Cristãos. Então, não apenas sentimos a totalidade de nosso próprio ser, como também, nossa conexão com a Criação e com o Divino e então, como aponta John Main: “ sobrevém uma consciência cada vez mais profunda da harmonia, da criativa totalidade que possuímos, e começamos a sentir que nos conhecemos pela primeira vez”.

Mas não se trata apenas de nossa própria integridade e harmonia; experienciamos, também, a verdade de nossa absoluta integração com o todo e, somos restaurados à unidade: “Toda matéria, toda a criação, também, é atraída para o movimento cósmico em direção à unidade que será a realização da Divina harmonia”. Isso, então, nos leva “a experimentar… uma nova capacidade de verdadeira empatia, uma capacidade de estar em paz com os outros, e, de fato, em paz como toda a criação”. Então, também não precisamos mais questionar o significado da nossa existência – nós sabemos.

É no cuidar de nós mesmos, da nossa família, de nosso próximo e de toda a criação que emerge o nosso significado. Então teremos ‘ vida…em toda a sua plenitude’.

Novamente fomos condicionados a pensar que esta forma de oração é apenas para algumas pessoas altamente espirituais. Mas esse modo de atenção uni focada, na oração, era frequentemente comparada a ‘seguir o caminho estreito’. Ouvimos São João Crisóstomo (349-407), um Padre da Igreja Primitiva e Arcebispo de Constantinopla, dizer: “Quando Cristo nos ordena a seguir o caminho estreito, ele se dirige a todos. O monástico e o leigo devem atingir as mesmas alturas.. Aqueles que vivem no mundo, ainda que casados, devem assemelhar-se a monges em tudo o mais. Você está totalmente enganado se pensa que há algumas coisas exigidas para pessoas comuns e outras para monges”. São Paulo e todos os apóstolos também se dirigiram a pessoas comuns, açougueiros, padeiros e fabricantes de velas.

Não é de surpreender que a meditação, em muitas formas, esteja tão em ascensão em nosso tempo. Se, ao menos, toda a humanidade pudesse se tornar consciente de nosso profunda interconexão e unidade, não haveria mais abuso de nosso meio ambiente, causando desastres ambientais; não haveria mais guerras. O mundo cooperaria para resolver o problema que um aumento populacional causa.

Mas a ‘oração pura’ exige, nas palavras de São Paulo: audácia, coragem, fé, compromisso e perseverança. Especialmente coragem para ‘deixar-se para trás’, as ambições, preocupações e ilusões do ego e não ser dominado pelo “crescente terror de não ter nada para pensar”, como disse T. S. Eliot. Mas confiar que “Não há caminho para a verdade ou para o Espírito que não seja o caminho do amor. Deus é amor”.

Kim Nataraja

Publicações similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *