Carta 16 – A importância da Comunidade
Cara(o) Amiga(o)
Vimos como temos a orientação interior de Cristo em nossa jornada de meditação, mas exteriormente, também recebemos apoio, por meio da comunidade de meditação. Em nosso mais interior ser, em nossa essência, somos uma centelha do Amor Divino, e somos essencialmente aceitáveis e amáveis. Uma vez que tenhamos nos conscientizado dessa verdade em nós mesmos, também a aceitamos como verdade nos outros. Então, podemos verdadeiramente ‘amar o nosso próximo’, como Jesus nos ensina a fazer, ‘como a nós mesmos’, porque nos vemos tal como vemos nosso próximo.
Mas, isso leva tempo e, como um Padre do Deserto apontou, não é fácil consegui-lo: “Passei 20 anos para ver todos os seres humanos como um!” No entanto, quanto mais nos tornamos cientes de que somos aceitos por Deus assim como somos, mais fácil se torna aceitar também os outros como eles são “Aprendemos a deixar nosso próximo ser, assim como aprendemos a deixar Deus ser. Aprendemos a não manipular nosso próximo, mas antes, reverenciá-lo, reverenciar sua importância, a maravilha de seu ser”.
Então, começamos a nos conectar com os outros a partir das profundezas, a partir da nossa essência, e não de nosso eu superficial ferido, nosso ‘ego’. John Main, em ‘A Palavra que leva ao Silêncio”, diz: “A essência da comunidade é o reconhecimento do outro e a profunda reverência pelo outro”. Nosso comportamento será, então, baseado em um senso de unidade e interconexão, resultando em empatia, respeito, bem como no anseio por serviço mútuo. No caminho espiritual, os relacionamentos pessoais e a vida em comunidade são oportunidades essenciais, onde esse amor e respeito por nós mesmos, e pelos outros, será melhor refinado. Na fricção de uns com os outros, tornamo-nos conscientes das nossas respostas condicionadas habituais a certos comportamentos e situações. Precisamos entender que elas foram moldadas no passado e não são apropriadas ao momento presente. Nossa irritação, até mesmo raiva, inveja e orgulho mostram nossa profunda ferida vinda de outro tempo e lugar. Assim, amigos e entes queridos nos tornam conscientes de nossa ‘sombra’. Especialmente quando isso for acompanhado por rezar/meditar em grupo; isso nos ajudará a transcender nossas feridas. Rezar juntos significa crescer juntos, por isso “a oração é a grande escola da comunidade” (‘A Palavra que leva ao Silêncio’). Lentamente, esse crescimento leva ao verdadeiro autoconhecimento e, portanto, a uma consciência mais profunda da Presença Divina. John Main diz em ‘The Inner Christ’: “Poderemos nos tornar totalmente presentes ao agora do momento divino, somente se pudermos deixar o passado totalmente para trás”. Isso, por sua vez, permite-nos tornamo-nos a pessoa que Deus quer que sejamos.
O grupo de meditação, e a comunidade por ele gerada, facilitam isso de um modo muito importante. Além disso, como Laurence Freeman diz em ‘Uma Pérola de Grande Valor’: “Não há nada de novo sobre Cristãos se reunirem para orar”. ‘O grupo todo de crentes estava unido, de coração e alma; eles se uniam em oração contínua’. Isso foi dito da pequena igreja de Jerusalém que se formou após a morte e ressurreição de Jesus”. À medida que o Cristianismo se espalhava, os primeiros Cristãos se reuniam para orar em pequenos grupos nas casas uns dos outros, assim como fazemos em nossos grupos de meditação. Especialmente nesses primeiros tempos, quando os Cristãos eram uma minoria frequentemente perseguida, conforto e apoio mútuos eram essenciais. Nós também precisamos desse apoio de companheiros de viagem em um mundo que não entende, e até mesmo denigre, nossa busca espiritual.
Além disso, a oração se torna muito mais poderosa quando as pessoas oram juntas, como Jesus ensinou: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18, 2).
Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL