Carta 30 – Amor e Perdão
Cara(o) Amiga(o)
Nós também nos sentimos muito relutantes, como o riacho na história “O deserto e o riacho” da semana passada, em abrir mão da imagem de quem pensamos que somos e de nossa própria ideia sobre nosso papel na vida. O que nos torna tão relutantes?
De algum modo, sabemos intuitivamente que, se realmente nos soltarmos, seremos transformados e nossa individualidade será remodelada como o Riacho.
O que nos impede é o medo. Aceitamos que há algo mais na realidade do que normalmente experimentamos; podemos muito bem ter tido vislumbres de uma sensação do que está além, durante nossa meditação. No entanto, ao mesmo tempo, não acreditamos realmente que somos dignos de entrar nesta realidade superior, de entrar na presença de Cristo em nós. O que nos impede é nossa crença de que somos basicamente pecadores. No entanto, John Main sublinhou que a Centelha Divina está em cada um de nós – somos essencialmente bons: “Jesus enviou o seu Espírito para habitar em nós, fazendo de todos nós templos de santidade: o próprio Deus habitando em nós… Sabemos então que compartilhamos a natureza de Deus”.
Se essa é a nossa essência, como podemos ser basicamente pecadores? John Main realmente lamentava que estivéssemos tão dominados por pensamentos de nossa própria inadequação e pecaminosidade e que “tínhamos perdido o apoio de uma fé comum em sua bondade essencial, razoabilidade e integridade interior” e também tivéssemos perdido a consciência “do potencial do espírito humano ao invés das limitações da vida humana”. Ele via a meditação como a maneira de perceber isso: “A meditação é um processo de liberação: devemos libertar essas verdades em nossas vidas”.
Nosso comportamento pecaminoso é resultado de nosso ego ferido e de sua necessidade de colocar sua própria sobrevivência em primeiro lugar em todas as situações. Nossa primeira infância, nosso condicionamento distorceu nossa auto-imagem e o comportamento subsequente. Mas, em vez de nos rejeitarmos, devemos ter em mente que Jesus em sua missão se concentrou nos fracos, nos sofredores e nos pecadores.
Como Laurence Freeman diz em ‘Jesus, o Mestre Interior’. “Na visão de Jesus, não somos criminosos na relação com um juiz. A boa notícia não é que a humanidade tem um juiz mais tolerante, mas que a acusação foi totalmente retirada. O pecado é apagado pela própria liberdade do amor, que o pecado ignora, rejeita ou esquece… A humanidade pode despertar de seu antigo pesadelo de punição auto infligida”. Não somos confrontados por um juiz, mas por amor e compaixão no espírito de perdão.
Na meditação, podemos nos abrir para o Amor que mora no centro do nosso ser, se abandonarmos nossos pensamentos e imagens. Então, no silêncio nós, assim como o Riacho, podemos nos render “aos braços acolhedores do vento”. Essa entrega permite que nos sintamos amados; nos sintamos aceitos, apesar de todas as nossas falhas e erros.
Com esse conhecimento, podemos assumir a responsabilidade pelas ações que surgiram das feridas de nosso ego. O que é importante perceber, diz Laurence Freeman em ‘Jesus, o Mestre Interior’, é que “somos responsáveis por nos tornarmos mais conscientes para criarmos menos dor para os outros e para nós mesmos. Mas, porque o pecado é o resultado da ignorância e ilusão, ele não merece mais punição do que a que contém em si mesmo”. Isso, por sua vez, nos permite perdoar os outros.
Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL