Carta 41 – A tradição e a prática da Meditação Cristã (3)

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Laurence Freeman continua: “Na segunda metade do último século as ‘Conferências’ de João Cassiano levaram John Main de volta à prática de meditação na tradição Cristã, que ele havia descoberto quando jovem no Oriente. As duas conferências de Cassiano “Da Oração” avançaram de uma visão genérica da teologia da oração para uma recomendação específica de como viver a oração em sua mais radical profundidade. Na ‘9a Conferência’ ele descreve o espectro da oração — suas várias expressões — mas mostra como todas estas formas convergem na “oração de fogo”, a experiência mística de união com a oração do próprio Jesus. Esta teologia está no coração da meditação Cristã. John Main via que na meditação nos movemos além de um foco egoísta, auto-centrado na “minha oração” para um entendimento vivenciado de que a oração Cristã é centrada na oração de Jesus. “Nós não sabemos como rezar, mas o Espírito reza dentro de nós”.

Na “10a Conferência” Cassiano descreve a oração baseada em uma palavra que se tornou a base da Oração de Jesus na Igreja Ortodoxa. Por razões muito longas para explorar aqui, a Igreja Ocidental perdeu o contato com este método simples que, para os Ortodoxos, foi e continua sendo a sua referência com a vivência da fé. Cassiano – reconhecido com um santo por ambas as Igrejas – descreve a fórmula ou mantra como um caminho para a primeira Bem-Aventurança. Através da “renúncia das riquezas de pensamento e imaginação” nós entramos diretamente naquela pobreza de espírito que é a condição para a nossa entrada no Reino de Deus – o Reino ou experiência de Deus que Jesus diz que está dentro de nós e no meio de nós. Cassiano continua e descreve os vários estados da mente através dos quais seremos conduzidos e com os quais às vezes temos que lidar conforme retornamos à palavra em fé e amor. Toda a tradição mística Cristã com suas várias escolas e grandes professores pode ser vista como uma elaboração desta percepção fundamental. Cassiano termina dizendo que a sua própria prática de meditação não foi fácil como ele tinha pensado que seria, mas que ela o levou a ler as Escrituras com novos olhos e como se ele mesmo as tivesse escrito. Finalmente, ele afirma que a própria simplicidade desta oração do coração a torna universal. Não é uma oração apenas para os eruditos, mas para todos. Nós podemos adicionar agora – e conforme esta conferência irá testemunhar – que é para todas as idades também.

Mil anos depois esta mesma tradição se manifestou na florescente tradição mística Inglesa do século 14. A Nuvem do Não Saber foi escrita para uma seleta audiência, mas desde então tornou-se um dos mais influentes e populares trabalhos de oração contemplativa nesta tradição. O seu ensinamento sobre “uma pequena palavra” e “deixar de lado os pensamentos” está em linha direta com a espiritualidade do Deserto e o ensinamento de John Main. A tradição, assim como a doutrina, se desenvolve – nós podemos ver como esta tradição de oração permaneceu essencialmente constante, mas se manteve alinhada à evolução da mentalidade da Igreja. A meditação hoje tornou-se democrática. Ninguém é excluído dela e ao praticá-la nós afirmamos a universalidade do evangelho e a fé em Jesus.

(Continua na próxima Carta)

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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