Carta 45 – A Integração do Humano e do Divino

Cara(o) Amiga(o)

A integração dos dois lados de nosso caráter, o ativo e o contemplativo, é vista no Evangelho de São Joao como a integração do nosso lado humano e nosso lado Divino, como o exemplificou Jesus. No seguinte trecho de “Jornada para o Coração” Laurence Freeman explica:

“O de João é o mais místico dos evangelhos, mas ao mesmo tempo nos oferece vislumbres comoventes da humanidade de Jesus – seu cansaço em um dia quente e necessidade de beber água, seu choro por um amigo que morreu – o que nós não encontramos nos outros três evangelhos. É um texto de grande profundidade e potência, ao mesmo tempo em que é simples e legível”. Bede Griffiths sentiu sua vida tomar um novo rumo depois de ler este evangelho em um momento intenso de busca por profundidade e significado. Estava claro que esta era uma das obras mais significativas do gênio humano. Qualquer que seja o seu significado preciso, foi o registro de uma experiência de uma profundidade insondável. Tanto a pessoa quanto a doutrina retratada eram de uma beleza além da imaginação humana. Não havia nada em Platão que pudesse ser comparado a eles. “Percebi que rejeitar isso seria rejeitar a melhor coisa em toda a experiência humana”. Por outro lado, aceitá-lo seria mudar todo o nosso ponto de vista. Seria passar da razão e filosofia à fé.” (Bede Griffiths, The Golden String).

O misticismo de João é novo na história mundial, não apenas filosoficamente, mas por causa de sua visão da realidade mais elevada integrada com os aspectos mais comuns do mundo sensorial humano. Isto é evidente não só no Evangelho que leva o seu nome, mas nas cartas que lhe são atribuídas e que o declaram ser uma mística do amor – humanamente divino ou divinamente humano segundo o seu ponto de partida: ‘Estava aí desde o início; nós ouvimos; nós o vimos com nossos próprios olhos; nós o olhamos e o sentimos com nossas próprias mãos; e é disso que contamos. Nosso tema é a palavra de vida. Esta vida se tornou visível: nós a vimos e prestamos nosso testemunho… para que você e nós juntos possamos compartilhar uma vida comum. ‘(1Jo 1, 1-3)

No entanto, apesar deste mundanismo, a “alta Cristologia” de João é apresentada ousadamente no Prólogo do Evangelho, onde ele iguala Jesus, o homem, com o Logos eterno. Palavra e carne se unindo é o paradoxo central do evangelho de João. Como podemos esperar, da oposição central de palavra e carne, todo o evangelho é construído sobre o paradoxo. Ao longo da tradição mística cristã, a expressão da experiência mais profunda geralmente emprega o paradoxo para dizer o indizível… A própria pessoa de Jesus é o foco unificador dessas aparentes contradições e o discipulado pessoal é a maneira como esse foco se torna uma força na própria vida…


A visão mística de João explora o mais alto estado de união com Deus. Isso é teologicamente explícito na afirmação do Verbo feito carne no prólogo. Existencialmente, é ilustrado em tudo o que Jesus diz, faz e sofre em sua humanidade, incluindo sua morte. Ele não faz ou diz nada que não reflita explicitamente seu relacionamento (não dualista) com o Pai.

Laurence Freeman OSB

(Extraído do livro ‘Journey to the Heart’)

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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